Lá fora, cá dentro o caralho que o foda!

Tenho orgulho em ser português. De ter nascido neste belo país, em que cada muralha reza a sua história. As suas pedras cantam vidas vividas, de pendentes olhos no horizonte, de espadas em riste, de mãos doridas sol a sol, versos "do novo reino que tanto sublimaram". Cantam tempos gloriosos, de puros Lusitanos, que lutavam pelo que tinham e lutariam por mais. Cantam uma Identidade.

Não escrevo na ilusão de que o mundo não era sujo, ou de que a exploração do povo pela nobreza não fosse ultrajosa; mas o povo serve para isso mesmo. No entanto, a mensagem era bem vendida, o trabalho e o esforço não só eram um meio de subsistência, como um dever à pátria e pela pátria. Lutava-se por algo. O sistema funcionava.

Hoje em dia não se luta por nada, e o povo passou de explorado a explorador. O povo tem direito porque tem direito, não interessa porquê; a culpa não é do povo, é do patrão porque não soube gerir ("porque até haviam encomendas"), ou é do estado porque não subsidiou. Já agora, o sindicato concorda com o povo, também não interessa porquê (se calhar neste caso, 10% das indemnizações interessam).
O "sistema" agora "funciona para alimentar o sistema". É o povo que vota.

Quando o triunfo e o mérito passam de louvor a sentença, algo está muito mal. Quando o empreendorismo é taxado em vez de ser incentivado, algo está muito mal. Quando um miúdo tem um Magalhães e não o consegue pôr a carregar em casa, algo está muito mal. Quando há um programa televisivo chamado "Gato Fedorento esmiuça os sufrágios" em prime-time, em canal aberto, em canal generalista, e que é um sucesso, algo está muito mal. Quando se fala em quanto o CR7 ganha, mas não se fala em quanto ele paga de impostos, algo está muito mal. Quando não se consegue estacionar um carro sem pagar, algo está muito mal. Quando se tem que pagar para viver na própria casa que já está paga, algo está muito mal. Quando o PS gasta 30 milhões na campanha eleitoral, algo está muito mal. Quando o Benfica consegue gastar o que gastou em jogadores e não paga a quem deve, algo está muito mal. Quando se vota no partido independentemente do candidato, algo está muito mal. Quando o tabaco, o álcool, os carros e o jogo são indecentemente taxados, mas as putas e as drogas não, algo está muito mal. Quando a selecção Portuguesa tem 3 brasileiros, algo está muito mal. Quando o nosso próprio hino clama: "levantai hoje de novo o explendôr de Portugal", algo está muito mal.

Dá vontade é de ser Português lá fora, porque esta merda está torta de mais para endireitar. Que canções cantarão os tijolos dos nossos prédios?

Um abraço, e até amanhã no jantar.